Assim como nos adultos, a cefaleia (dor de cabeça) é um dos sintomas mais comuns na população pediátrica. É muito frequente as crianças e os adolescentes se queixarem de dor de cabeça e seus pais os levarem ao otorrinolaringologista, pensando em sinusite, ou ao oftalmologista, pensando que algum distúrbio de refração esteja provocando aquele sintoma. Porém, sabe-se há muito tempo que os principais tipos de dor de cabeça são aquelas primárias, onde a dor é a própria doença, ao invés das secundárias, em que a dor é apenas mais um sintoma de outra doença.
Dentro deste contexto, a enxaqueca é o tipo de dor de cabeça que mais se destaca pela frequência na população pediátrica e pela incapacidade (prejuízo escolar, social e familiar) que ela provoca.
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
A frequência de dor de cabeça na infância e pré-adolescência (< 12 anos) é de 54,4%, sendo 59,2% em meninas e 49,3% em meninos. A frequência de enxaqueca na infância e pré-adolescência (< 12 anos) é de 9,1%, sendo 10,5% em meninas e 7,6% em meninos. No Brasil, estima-se que 1,6% das crianças e pré-adolescentes possuam dor de cabeça crônica, ou seja, eles apresentavam dor de cabeça em pelo menos 15 dias no mês.
DOENÇAS ASSOCIADAS À ENXAQUECA
Sabe-se há muito tempo que crianças com dor de cabeça e enxaqueca sofrem mais de ansiedade e depressão que aquelas que estão não a possuem. Além de serem doenças comuns aos pacientes com enxaqueca, a presença dessas doenças (ansiedade e depressão) aumenta o risco de cronificação da dor de cabeça e enxaqueca. Crianças que sofrem com dor de cabeça possuem mais dificuldade de dormir e aquelas com enxaquecam apresentam um risco aumentado de apresentar síndrome das pernas inquietas.
Além disso, recentemente, pesquisadores brasileiros descobriram que crianças com diagnóstico de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) possuem mais enxaqueca, que a população sem aquela doença, e vice-versa, os enxaquecosos apresentam maior risco de desenvolver TDAH.
DIAGNÓSTICO
Os diagnósticos são realizados com base na Classificação Internacional das Cefaleias, onde as dores de cabeça são divididas em dois grandes grupos: primárias (quando a dor é a própria doença) e secundárias (quando a dor é um sintoma de outra doença).
O que faz o médico pensar em dores de cabeça secundárias, geralmente é a presença de outras manifestações além da dor de cabeça, tais como: febre, tosse, diarreia, história de traumatismo craniano, confusão mental, perda de força em algum membro do corpo, alteração da sensibilidade, incoordenação motora, sonolência excessiva, crise convulsiva, etc. Nessas situações, o profissional necessitará de exames complementares (tomografia computadorizada, ressonância magnética, punção lombar, eletroencefalograma, exames de sangue), para então definir qual a causa da dor de cabeça.
Se a criança ou o adolescente não teve nenhuma dessas manifestações acima, há uma grande probabilidade da sua dor de cabeça ser primária. Em relação a essas dores, para a conclusão diagnóstica é extremamente importante que o próprio paciente ou seus pais definam suas características: lateralidade (de um lado ou dos dois lados), caráter (latejante, em pressão), intensidade (leve, média ou forte), duração (segundos, minutos, horas ou dias) e sintomas associados (enjoo, incômodo com luz e/ou barulho, lacrimejamento, coriza, pálpebra caída, etc.).
TRATAMENTOS
Quando se fala sobre o tratamento para as dores de cabeça, deve-se lembrar que há dois tipos: preventivo (faz com que evite os episódios de dor de cabeça virem) e da crise aguda (trata a dor quando ela já apareceu). Lembramos que o principal tipo de tratamento é o preventivo, seja com medicação ou apenas com medidas não medicamentosas. Porém, sempre associando com um bom tratamento da própria crise. O parâmetro para se indicar o tratamento preventivo, com uso de medicação contínua/diária, é de pelo menos 3 episódios de dor de cabeça no mês. Parece pouco, mas não é!
Diversas medicações podem ser utilizadas na infância e adolescência tanto com o intuito preventivo quanto para o tratamento da crise de dor de cabeça, entretanto o que se deve estimular é o tratamento não-medicamentoso, com mudança do estilo de vida.
Toda criança com enxaqueca deve ter uma rotina regular para o sono, realizar exercício físico aeróbico (se criança, brincar é o exercício!) e evitar alimentos que desencadeiem seus episódios de dor de cabeça. Além disso, nunca se esquecer de tratar outras doença que podem estar relacionadas com a enxaqueca, tais como: transtorno de ansiedade, depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, bruxismo e obesidade.